quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Mundo


Nós não estamos no comando, nós não estamos a governar.
Estamos a ser comandados, estamos a ser governados.
Como marionetas pedintes.
Adriana Matos

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Mais um nenhum no meio do nada

A cama tinha sido feita. Deitada nela estávamos nós. Trazias vestido uma camisa preta e umas jeans. A posição do teu corpo era-me estranha, meia sentada e com as pernas num ângulo esquisito. Porém, estavas muito bem. Olhei-te. Fazia-o muitas vezes. Não gostas disso, bem sei, por isso é que o faço. A tua pele estava morena, e apetecia-me tocá-la. Coloquei os meus braços em torno do teu pescoço. Beijei-te. Não mostras-te qualquer prazer ou desejo por mim. Não me importava com a tua indiferença. Agarrei-te nas mãos e toquei-me com elas. Primeiro, nos ombros, para se lhes seguir os seios, as ancas, as virilhas. Tu olhavas para o infinito. De vez em quando, regressavas a ti e miravas onde as tuas mãos estavam a tocar, para voltares logo ao teu mundo. Chamei-te. Disse-te para me beijares. Fazendo-me a vontade, beijaste-me levemente, sem qualquer tipo de emoção aparente. O teu pouco desejo por mim excitava-me imenso, e tu sabias. Desapertei-te o cinto. Queria-te. Deixaste. O fecho das calças abri-o com os dentes, enquanto os meus olhos pousavam em ti. Sorrias agora. Não eras tu que me interessava, era o teu corpo. Tirei-te os sapatos, as meias e depois as calças. Demorei-me nas tuas pernas. Beijei-te as feridas, os sinais, as nódoas negras. Toquei-te onde podia e queria. Olhei para ti. Tinhas os olhos fechados. Já as duas sabíamos o que viria a seguir. Deitei-te, meia à bruta. Agarravas-te agora às traves da cama. Puxei lentamente os teus boxers pretos para baixo, até irem parar ao chão. Coloquei-me no meio de ti e fitei-te. Os teus olhos abriam-se agora e sorrias-me. Puxaste-me para ti e sussurraste ao meu ouvido: "Esta noite sou tua". E eu já o sabia bem que eras. Voltei ao centro de ti. Com as mãos, fui abrindo as tuas pernas até te deixarem à vista o sexo. Agarrei-te as mãos, prendi-as às minhas e beijei-te as virilhas. Mordisquei, olhei, consumi. Fui brincando com os teus lábios, enfiando a minha língua dentro deles. Um gemido saiu de ti, de dentro para fora.

Depois, tudo aconteceu rápido. Tive-te ali, receptível a tudo o que eu quisesse. Atingiste o orgasmo. Não queria. Queria possuir-te, violar-te. Afinal, eras como todas as outras. Igual a todas. Perdi o desejo. Beijei-te os seios, mordi-te. Depois disse "Veste-te". E tu vestiste-te. Eras um objecto sexual, mais um. Disse-te que me ia embora, já era tarde para levar com as tuas perguntas. Disses-te-me "Já é demasiado tarde. Já não há comboios nem autocarros. Fica aqui". E lá fiquei.

Ao acordar de manhã, um bilhete avistava-se à minha mesinha de cabeceira. Dizia: "A noite foi óptima. Vê se me esqueces. Não me voltarás a ver". Já sabia que era aquilo que dizia. Sai dali. Já tinha consumido as minhas vontades. A seguir, iria beber um Martini no café. Apesar de ainda ser cedo, a vontade também não tardou a acordar.

A.M.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O longe está perto demais

Acordei. Tinha-te ao meu lado. Com as mãos levantadas sobre a almofada e a cabeça sobre a mesma, estavas tu. O sonho, daquilo que tinha acontecido ali mesmo, tinha acabado. Estava na altura de me ir embora, acabara de cumprir ali a minha missão de amante. Não sei por quê, mas não fui. Ao invés disso, enrolei-me à tua cintura, subindo por cima de ti até ficar num encaixe perfeito. Deixei-me estar ali imenso tempo, e tu só dormias. Não parecias dar-te conta de que era eu que ali estava. Não parecias perceber que estava ali. Mas uma vez que sabias o que significavas (apenas mais uma noite de loucura) não me importei. Acordaste. Dei-te a mão. Agarrei-te nos dedos e fiz pressão. Não podias fugir de mim agora. Estar ali significava amar-te, e tencionava fazê-lo mais uns minutos. Com a boca, fui beijando-te o pescoço. Nunca a boca. Já sabia que era proibido (e apetecido!).
Virada de barriga para cima, vi-te a beleza que nunca tinha visto antes. Fui amando o teu corpo, comendo-te lentamente, como a uma sobremesa. Desci. Com leves carícias, puxei-te para mim. Fiz com que viesses encostar o teu corpo ao meu, sabes bem. Adorava sentir-te a respiração. Estavas quente e ofegante. Adorava em ti o teu tom de pele. Não me preocupei em fechar os olhos enquanto te beijava, nem tu. Olhava para ti sempre que fechavas os olhos de um prazer nulo. Ficavas linda.
Estava na hora. O tempo tinha passado e agora tinha que te deixar. Beijei-te a boca, levemente. Pedi desculpa mas voltei a fazer o mesmo. O sal que tinhas na boca! Ai, só sei eu o que senti ao fazê-lo. Disseram um dia "O fruto proibido é o mais apetecido", como me soava isso tão inteligente agora! Acariciei o teu corpo, como despedida. Vesti-me. Olhavas para mim e não emitias qualquer som. Peguei num papel e escrevi o meu número. Não tencionava que o usasses.
A tua cara estava indecifrável, um misto de euforia e indiferença. Voltei-me para a porta e andei. Ao abrir a porta, os teus braços abraçaram-me e disseste-me ao ouvido:
- Quero ver-te amanhã.
Sorri. Sai pela porta. Onde estaria eu? Não fazia ideia alguma. O sol já torrava. Que haveria acontecido ali? Não tinha a certeza, mas sabia que tinha sido fabuloso.
Com os óculos de sol postos, e os botões da camisa mal apertados, ri-me. Como eras ingénua! Nunca mais te voltaria a ver, pois poderia querer amar-te mais. O número que te dei era falso e a noite anterior foi apenas mais um dia de passado. Estava na hora de seguir em frente.
Agora deixo-te a despedida decadente, a minha despedida. Agora que já foste comida, está na altura de deitar a embalagem fora. A verdade é dura? É uma verdade incrível, não é? Claro que sim. O problema das pessoas é que querem mais do mesmo. Mas eu não. Apenas quero provar sabores diferentes, gostos diferentes, coisas diferentes. Não tenciono amar-te. Nunca. Porém, pensarei em ti para o resto da minha vida.
Vida? Ahah, graças à droga consumida, ainda pensei que tinha uma.

Perguntas-te?

Qual a diferença entre o homem e a mulher? Por que raio é que a maldade é dada de mão beijada ao homem? Como é possivel, que desgraçados humanos passem por um mendigo e pensem "Deve precisar de dinheiro para a droga..." e passem depois por uma mendiga e le dêem para a mão 2€ pois pensaram "coitada, não tem casa...". Qual a diferença? Quem vos não diz que o dinheiro lhe oferecido não foi para matar os seus vicios loucos, sejam eles quais forem? Quem vos não diz isso? Por que é que certas pessoas pensam no sexo feminino como sendo mais fraco, ingénuo, verdadeiro? Como é que há gente tão estupida ao pensar nisso?
Exclareco-vos, ó bestas andantes, que todo o ser é Mau. Todo o ser se torna mau e instintivo quando a vida lhe nasce dentro do corpo. Todo o ser se torna, de uma maneira ou de outra, mau. Quanto mais não seja, em pensamento.
Qual é a diferença ente o homem e a mulher?
A.M.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Dias de Sombra

Dou-te a mão. Tu deixas.
Abraço-te. Tu deixas.
O Mundo está todo lá em baixo, e nós no céu. Ou sou eu a sonhar? Já não sei.
Permanecemos assim, milhões de anos, abraçadas, juntas. A cama era pequena, não faz mal.
Somos todos iguais, todos os mesmos. Estamos todos juntos, neste mundo de merda e tentamos viver aqui. Somos iguais. Com as mesmas fraquezas, os mesmos enjoos, as mesmas desilusões.
Somos todos iguais, dentro da nossa diferença.
Agora deixa de falar, de filosofar, e beija-me. Beija-me louca e desenfreadamente como nunca.
Adeus.
A.M.