terça-feira, 19 de agosto de 2008

Mais um nenhum no meio do nada

A cama tinha sido feita. Deitada nela estávamos nós. Trazias vestido uma camisa preta e umas jeans. A posição do teu corpo era-me estranha, meia sentada e com as pernas num ângulo esquisito. Porém, estavas muito bem. Olhei-te. Fazia-o muitas vezes. Não gostas disso, bem sei, por isso é que o faço. A tua pele estava morena, e apetecia-me tocá-la. Coloquei os meus braços em torno do teu pescoço. Beijei-te. Não mostras-te qualquer prazer ou desejo por mim. Não me importava com a tua indiferença. Agarrei-te nas mãos e toquei-me com elas. Primeiro, nos ombros, para se lhes seguir os seios, as ancas, as virilhas. Tu olhavas para o infinito. De vez em quando, regressavas a ti e miravas onde as tuas mãos estavam a tocar, para voltares logo ao teu mundo. Chamei-te. Disse-te para me beijares. Fazendo-me a vontade, beijaste-me levemente, sem qualquer tipo de emoção aparente. O teu pouco desejo por mim excitava-me imenso, e tu sabias. Desapertei-te o cinto. Queria-te. Deixaste. O fecho das calças abri-o com os dentes, enquanto os meus olhos pousavam em ti. Sorrias agora. Não eras tu que me interessava, era o teu corpo. Tirei-te os sapatos, as meias e depois as calças. Demorei-me nas tuas pernas. Beijei-te as feridas, os sinais, as nódoas negras. Toquei-te onde podia e queria. Olhei para ti. Tinhas os olhos fechados. Já as duas sabíamos o que viria a seguir. Deitei-te, meia à bruta. Agarravas-te agora às traves da cama. Puxei lentamente os teus boxers pretos para baixo, até irem parar ao chão. Coloquei-me no meio de ti e fitei-te. Os teus olhos abriam-se agora e sorrias-me. Puxaste-me para ti e sussurraste ao meu ouvido: "Esta noite sou tua". E eu já o sabia bem que eras. Voltei ao centro de ti. Com as mãos, fui abrindo as tuas pernas até te deixarem à vista o sexo. Agarrei-te as mãos, prendi-as às minhas e beijei-te as virilhas. Mordisquei, olhei, consumi. Fui brincando com os teus lábios, enfiando a minha língua dentro deles. Um gemido saiu de ti, de dentro para fora.

Depois, tudo aconteceu rápido. Tive-te ali, receptível a tudo o que eu quisesse. Atingiste o orgasmo. Não queria. Queria possuir-te, violar-te. Afinal, eras como todas as outras. Igual a todas. Perdi o desejo. Beijei-te os seios, mordi-te. Depois disse "Veste-te". E tu vestiste-te. Eras um objecto sexual, mais um. Disse-te que me ia embora, já era tarde para levar com as tuas perguntas. Disses-te-me "Já é demasiado tarde. Já não há comboios nem autocarros. Fica aqui". E lá fiquei.

Ao acordar de manhã, um bilhete avistava-se à minha mesinha de cabeceira. Dizia: "A noite foi óptima. Vê se me esqueces. Não me voltarás a ver". Já sabia que era aquilo que dizia. Sai dali. Já tinha consumido as minhas vontades. A seguir, iria beber um Martini no café. Apesar de ainda ser cedo, a vontade também não tardou a acordar.

A.M.

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu acho que o amor é a base de qualquer relação (assim como outros aspectos essenciais), mas acho que só se sabe amar o outro, quando primeiro, aprendemos a amar nós mesmos, quando nos respeitamos e quando exploramos os nossos limites. Amar é óptimo, é de facto, mas quando amamos e somos amados aí sim, ascendemos ao nível máximo da nossa mente e quebramos todas as barreiras emocionais e nascem novas virtudes espirituais criando paz e harmonia com a nossa alma gémea. "Amar para sempre" é um cliché barato que é muito bonito aos olhos da sociedade, mas o amor nem sempre é para sempre porque mesmo os nossos pais, casados que estão, podem vir a ter outros amores que nós filhos, desconhecemos. O amor trata-se de amar o que a mãe-natureza nos dá e aprender com ela, a sobreviver. Tudo na vida é feito de certezas/incerteza, coisas boas/más, os opostos que referi na minha crítica. Nós criamos a nossa própria sorte (: