segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Vicioso vício

Os dias são passados a ingeri-lo. Depois, segue-se-lhe uma data de carícias propícias a outras marés. O corpo pede, a boca leva-o até lá. Uma vez ou outra, lá tenta o organismo mandar fora este vício, embora em vão. Toda a gente o sabe de cor. Toda aquela alegria de bebe-lo traz-me a paz que não tenho. Não interessa. Apenas consumo, e consumindo sou capaz de consumi-lo de novo. É um círculo vicioso, como tudo, aliás.

Ali, a olhar para mim, cheia de carência, está ela. Com um fundo redondo e um liquido transparente. Ali, a olhar para mim, está o vazio do meu quarto, que nunca me chama à razão, pois não a há. O céu sobe agora, para onde não estava antes. Sobe para o sítio dele. Ah, que devaneio este! Estava a falar do ser-se viciado, já me esquecia.

Cair em mim? É deixar de ser quem sou. É morrer depois de ter morrido. Não posso cair. Muito menos em mim. Por isso faço por esquecer-me disto. E daquilo.

É tudo igual. Até o diferente. (Estarei eu já a espalhar o tema? E vós a não compreenderem minha escrita?)

Meto na boca o vício, e levo-o até mim através do esófago. Não sei o que sou. Tenho vícios em todos os poros do corpo. E nem sequer me quero desfazer deles. Embora queira. Parece-vos estranho? A mim também.

Adriana Matos

Sem comentários: