terça-feira, 18 de março de 2008

Destinos

Estive à tempos (na altura das aulas) com a Raquel. Não a Raquel, mas a Raquel, amiga desde que me conheço. Contámos muitas coisas nesse dia. Ela estava muito feliz, as coisas corriam bem com o namorado. E eu, sozinha, afirmava sempre que também estava óptima. Não sei se é uma grande verdade, mas serve para deixar os outros descansados. Começou a mexer-me na mala, (o coração bateu tão forte nesse momento) e sentiu na mão uma caixa de cartão. Olhou para mim, já sabia o que era, procurou o bolso e pegou naquele maço de tabaco que tanto me tinha passeado, olhou para mim de novo, e apenas disse "Queres ver prazer?". Dobrou aquilo, dobrou e torceu, até ter a certeza que aquilo já não dava para nada. Fiquei ali, a pedir-lhe para não fazer aquilo, mas com ar de morta, e a sentir-me como tal. Reparei que lhe tinha caído uma lágrima de cada olho, e isso foi o pior. Fiz-me de forte, como sempre, e mudei logo de assunto, estivemos mais uns minutos juntas. Ela teve que ir buscar lenços, disse que estava "ranhosa". Fui com ela. Pouco depois, tocou para a entrada e ela foi ter com o namorado. Fui para as bancadas em frente ao nada, e chorei. Sentia que tinha desiludido toda a gente, que era um trapo, um nada, um nojo. Estava suja por dentro, tão que estava com raiva e nojo de mim mesma. Odiava pertencer ao meu corpo, naqueles minutos que foram um século. A Raquel sempre foi das pessoas que me chamou à razão, e por isso é que chorava. Ela tinha sempre a razão do lado dela, e eu apenas era uma zombie, a fazer tudo o proibido, tudo o que não se deve. Sempre me disse que se começava com pouco, disse-me isso quando comecei a beber e, agora, voltara a pensá-lo, voltara a pensar que era uma desilusão. Desta vez, foi melhor, porque me avisou a tempo. Mas terá sido no momento certo? Cada um terá opinião quanto a isso. Muitos não se mostraram interessados em minha pessoa e no meu estado, mas ela sim, preocupou-se imenso e foi tão estranho que ainda me está na cabeça. E na dela também.
Adriana Matos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Acho que estamos tão habituados a ser ignorados até pelos nossos amigos que quando alguém repara e diz uma palavra de aviso ou de ajuda ficamos aparvalhados.
Claro que se fosse comigo não gostava muito pois o tabaco é propriedade tua como será o teu telemóvel ou whatever.
Sabes, para um viciado em Final Fantasy X é quase crime não te dizer esta frase que é dita por uma personagem do jogo: "No matter how dark the night, morning always comes. And our journey begins anew."
Pensa nisso.