quarta-feira, 26 de março de 2008

Relato da minha Páscoa

Sexta-feira era o dia em que ia para a minha terra. Acordei indisposta, com dores de barriga. Não queria sair de casa, era demasiada a dor para me levantar. Piorou depois do almoço, e logo quando íamos pôr-nos a caminho. Mesmo assim, pegou-se nas trouxas e fizemo-nos à estrada. Continuava a doer mais e mais. Já tinha tomado um Aspegic, mas pedi à minha mãe para parar numa Farmácia para comprar outra coisa qualquer. Tomei mais dois Moment 200, e estava pior. Parámos. Estava cheia de claustrofobia. Saí do carro, olhei para ver onde estava. Numa ponte. Debrucei-me sobre ela para lhe ver a fundura. Era tão grande o desejo de lá estar projectada em baixo. Mas fui cobarde, tão cobarde. Deitei-me antes no asfalto. Comia-me as entranhas, não sei quem. Tivemos que voltar para o carro. E a mim doía-me tanto. Pedia constantemente à minha mãe para me fazer massagens, melhorava um pouco assim. Os meus pais quiseram ir a Fátima. Tudo bem, já não queria saber. Ao chegarmos lá, melhorei. O porquê deste melhoramento repentino, deixo ao vosso critério. Fomos ver a nova catedral. Chorei um pouco quando lá cheguei. Era incrível, tão incrível, aquela gente estar toda lá movida pela Fé. Olhava de soslaio para os outros, imaginando-lhes a vida e senti-me futilizada. Estariam quantos, mas quantos, quantos, com vidas tão piores que a minha? Pedi desculpa, mentalmente, a quem quer que fosse pois passo a vida a queixar-me de nada. Depois fomos comprar umas velas, os meus pais queriam pô-las a arder. Pronto, tudo bem. Fizeram o que tinham a fazer e depois fomos embora. Ainda tínhamos umas horas de viagem pela frente. Mas fez-se bem. Eu já não me queixava, o meu irmão já dormitava, e tudo para dentro se pensava. Enfim.
Depois de tanto andar, chegámos à minha terra (Lameiras) e já se sabe como são os avós: Lambem-nos e espremem-nos até deitar sumo. Foram feitas as perguntas de sempre: -"Está tudo bem contigo?"; -"As notas vão boas?"; -"Tens sido boa menina?"; -"E namorados?". Devo confessar que algumas respostas não foram as que se queriam ouvir, obviamente. E sussurrei alguns nomes que agora me parecem feios e maus. Já era tarde, fui ter com os meus tios e primos, onde ia dormir, e lá foram feitas as mesmas perguntas, ditas as mesmas respostas e sussurrados os mesmos palavrões. Falei com a minha prima sobre as novidades, e dormi.
No Sábado, estava frio. Queria ir dar um passeio, ir até aos moinhos (dos sítios que mais amo, onde a minha alma parece descansar) mas tal não me foi possível. É pena, mas não faltarão oportunidades. Almocei e jantei, como um zombie no mundo dos vivos. E por volta da uma da manhã, decidi dormir.
No Domingo, dia de grande pompa e circunstância naquela aldeia, tive que acordar por volta das nove e tal para tomar banho e me preparar para a missa (foi uma grande discussão, tentar dizer que não queria ir, em vão). Depois vim a saber, que para além da missa, havia também uma procissão. Esta começou antes da própria missa. Começou então a mesma. Notei que as minhas passadas estavam completamente descordenadas das dos outros. Não era o meu mundo. A minha avó agarrava com força a minha mão e ia-me puxando. Eu estava ali tal e qual um fantoche. Sim, era mesmo assim que me sentia, um fantoche. Nada daquilo tinha a ver comigo, e tenho a certeza absoluta, que nada tinha a ver com muitos outros que ali estavam. Depois a missa, depois daquilo estava pronta para dormir. Mas seguiu-se o almoço. Não comia praticamente nada do que estava na mesa, a minha comida era feita à parte (Vegan). Uma senhora que também tinha ido almoçar, deu-me 5€, tal como a minha avó. Acabou portanto o almoço e eu tinha 10€ no bolso, nada mau. Íamos depois embora. Começamos as despedidas. -"Porta-te bem" era o que me diziam. Só pensava -"Querias tu!". Fomos à terra do meu pai, só para fazer de conta que a família é unida e feliz. Acabamos por ficar lá a jantar, depois levaríamos o meu primo. Foi a sorte dele! Convidaram-me, para o ano, ir para a borga com os meus primos. Talvez. Para o ano, se verá.

Adeus,
Já não tenho forças para escrever mais,
e apetece-me ler Florbela,


Adriana Matos.

1 comentário:

Anónimo disse...

a minha páscoa foi parecida com a tua em alguns pontos mas consideravelmente melhor. as perguntas sobre as namoradas não existem, a missa não fui obrigado a ir, não tive qualquer dor de barriga ou outra noutro sítio qualquer.
e até houve lugar para fazer coisas muito interessantes com um moço que vim a saber era meu primo em não sei quanto grau.
ao menos o relato está giro, apenas me pareces demasiado deprimida.
comentei o teu hi5, decerto te trará alegria. xD