terça-feira, 1 de abril de 2008

Nevoeiro


Adriana Matos. Fumo


Estava à tua espera. Já sabia que não vinhas mas tinha que esperar. Era isso que me mantinha viva, era o que me fazia respirar. Tudo rondava à tua volta, porque tu eras tudo.
Sai à rua, queria beber alguma coisa que me deixasse melhor. Comprei um vinho do bom e fui com ele para um campo de girassóis que ali havia. Senti que estava no melhor sítio do Mundo. E nem precisava de ti... Tudo ali me envolvia, e eu era a única que estava contra ao sol. Tudo ficou subitamente lindo, alegre e colorido. Nas veias corriam-me multiplas flores e vários cheiros. Estava ali tão bem! O vinho já tinha ido, já era passado, e prendia-me ao Whisky que tinha na minha mala. Ahah, quantos sonhos ali estariam! Meus e teus, e nossos nunca! Deitei-me naquele mar imenso de amarelo, e sorri. O dia estava lindo e tudo o era também. O sol queimava-me a Iris, portanto fechei os olhos. Não tardei a adormeçer. Quando acordei, a lua já ir alta e as horas já não eram as mesmas. Já tinha tudo voltado a ser cinzento. Não faz mal. Tinha algo que um amigo me tinha dado, apesar de o estar a tentar guardar. "Só um pouco não faz mal". Comecei a inalar, tão branca linha de beleza, e perdi-me nela. Tão depressa era noite como depois era dia, tão depressa era uma linha como três. Bem-feita por não vires ter comigo. Chorei de tanto rir de tão maluca que estava e era. Lembrei-me, tinha que voltar para casa. Podias estar à minha espera! A cambalear, fui para casa, mecanicamente. Quando abri a porta nem reparei. Só depois, já sóbria de novo, vi o teu bilhete: "Não esperes mais por mim". Fui até ao quinto andar e parti. E nada é real.
Adriana Matos.

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